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Foto do escritorMatheus Mans

É Tudo Verdade 2019: 'Meu Amigo Fela' traz complexidade de músico nigeriano


Documentários biográficos sempre ficam com um problema grave de formato. É muito fácil recair no óbvio, no banal. Em 2018, alguns filmes conseguiram escapar dessa sina, como o poético documentário sobre Torquato Neto e o interessante A Vida Extra-ordinária de Tarso de Castro. Na competição do É Tudo Verdade de 2019, mais um filme consegue romper a fórmula das entrevistas, imagens de arquivo e depoimentos emocionados. É Meu Amigo Fela, longa-metragem sobre o músico nigeriano Fela Kuti.

Dirigido pelo brasileiro Joel Zito Araújo (Raça), o longa-metragem se debruça sobre a vida do nigeriano que, além de ter feito boa música, se tornou símbolo de resistência do País contra a ditadura militar. No entanto, ao invés de seguir as convenções e recontar a vida de Fela, o cineasta optou por pegar o biógrafo do músico, Carlos Moore, para sair por aí e compreender as várias facetas do cantor e compositor. Algo parecido com o que Cristiano Burlan fez em Mataram Meu Irmão. Nada de história. Apenas fatos, sob a ótica particular de cada um dos entrevistados. É quase um caleidoscópio de opiniões.

A partir disso, e de alguns preâmbulos feito pelo roteiro, Meu Amigo Fela vai se debruçando nas contradições, complexos e histórias que circundavam o nigeriano. Não há uma cronologia definida, nem nada do tipo. São histórias que se amontoam, como a poligamia praticada por ele ou a escalada de violência no final da vida, que traz uma complexidade interessante ao personagem. São camadas de histórias que vão se aglutinando para formar algo maior, mais poderoso e muito mais diferenciado.

No entanto, há alguns pontos a serem ressaltados. Na ânsia de trazer vários pontos de vista e várias histórias, o documentário acaba ficando mais corrido do que deveria. Muita coisa importante, e pouco conhecida, passa batido -- como é o caso, por exemplo, da forma que Fela morreu ou, ainda, como foram as várias prisões que ele passou. São fatos interessantes, que não estão ao alcance do grande público, e que dariam um tempero especial. Teria sido mais interessante do que ficar gastando tempo falando de Malcolm X. Claro que faz parte da formação de Fela como pessoa, mas precisa tanto?

Dessa forma, Meu Amigo Fela é um filme que quebra paradigmas e acerta ao não apostar no óbvio do subgênero. No entanto, acaba se perdendo no meio, falando de mais coisas do que deveria e, dessa forma, esvaziando um pouco a importância biográfica do filme como um todo. Vale para os fãs do músico e para pessoas que gostam de mergulhar na cultura negra e ativista que existe ao redor do mundo. Pessoas desinteressadas nos dois assuntos, porém, poderão se frustrar com o resultado final.

 

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