Quando o trailer de Os Guardiões começou a ser compartilhado na internet, no começo de 2017, a febre foi instantânea. Afinal, é um filme russo com super-heróis. O vídeo, de pouco mais de dois minutos, ainda entregava edição de tirar um fôlego e uma trilha sonora digna de filmes americanos. Era animador. No entanto, o filme que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 31, não se parece nada com o trailer: é arrastado, caricato, tem uma história risível. Só vale pela tentativa.
A trama do filme começa mostrando detalhes do projeto Patriota, uma iniciativa do governo em modificar o DNA de quatro russos para impedir um ataque de forças sobrenaturais no País. No entanto, o projeto desanda e o quarteto, com mutações genéticas, decide se separar e enfrentar a vida cada qual do seu jeito. As coisas mudam de figura, porém, quando o cientista responsável pelo tal projeto sofre uma mutação e, sem um grande motivo, decide dominar o mundo.
A partir daí, o quarteto -- que parece uma mistura ruim de X-Men, Esquadrão Suicida e a novela Mutantes -- irá se unir à uma organização governamental para tentar impedir o cientista, que conta com uma força descomunal e ainda tem, sob seu domínio, um exército de clones e poderosas máquinas controladas pela energia elétrica que emana de seus braços. Depois disso, o vazio. A trama não evolui mais nada a partir disso, nada a mais é acrescentado.
No entanto, ainda assim, vamos para a crítica: o filme é erro do começo ao fim. A começar pela estratégia de distribuição no Brasil. Ao invés de deixar o idioma original, em russo, foi decidido que seria melhor dublar em inglês. E colocar legenda. Ou seja: para a mensagem do filme chegar aos espectadores, é preciso passar por mais dois idiomas além do original, claro. Só isso já deixa o filme ainda mais artificial e distante da audiência, que verá apenas uma dublagem a la novela mexicana.
Isso até poderia não ser problema, ainda, se o roteiro fosse bom. O que não é. Ele é um amontoado de clichês, diálogos vazios de sentido e tentativas falhas de fazer humor -- que é tão frio quando o interior da Rússia no inverno. Nada ali funciona. Nada. O vilão não tem sentido, não tem motivação. Quer acabar com o mundo fazendo juntando satélites com uma antena russa. Só isso. Fica difícil, então, entender o que ele quer de verdade e por quê está fazendo isso.
Os quatro heróis, enquanto isso, são rasos demais. São apresentados de forma corrida e não há maiores detalhes sobre de onde vieram, o que viveram, pelo que passaram. Em um momento, apenas, o roteirista Andrey Gavrilov tenta dar história para dois dos protagonistas do filme, mas falha terrivelmente. Eles apenas contam uma história sem pé nem cabeça, e que tem a emoção dos atores -- se é que há alguma -- encoberta pela dublagem em inglês. E pela legenda em português.
A direção de Sarik Andreasyan também é outro erro. Nenhum plano parece original, lembrando sempre Batman: O Cavaleiro das Trevas e qualquer outro dos X-Men. Cenas parecendo clipes também são frequentes -- alô Michael Bay, parece que você tem um fã na Rússia -- e alguns detalhes incomodam, como os tiros que não atingem ninguém e as ruas sempre desertas.
O pior, porém, é que ele se levam a sério. O filme, então, não pode ser enquadrado na categoria trash, como Sharknado, e que acaba sendo bom de tão ruim que é. É só um filme que deu muito errado.
No final, só se salvam alguns efeitos especiais -- com exceção dos que envolveu o urso, que são tenebrosos -- e a trilha sonora que, apesar de mal posicionada em toda a narrativa, tem certa força. E não deve ser ignorado que o filme é russo, um país com pouca tradição de cinema. Realizar um filme desse, independente do resultado, é corajoso. Mostra que há, em alguns locais, vontade de inovar. Ainda que essa inovação esteja muito presa no que vemos por aí.
Vamos aguardar os próximos capítulos e, quem sabe, ainda sai um clássico super-heróis das terras de Vladimir Putin. O mundo, afinal, está precisando.
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