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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Um Ato de Esperança' é boa história que se perde no exagero


Fiona Maye (Emma Thompson) é uma experiente juíza britânica que trabalha em casos eticamente complexos na vara do Direito Familiar. Dentre outras coisas, ela precisa decidir, por exemplo, se gêmeos siameses devem ser separados -- resultando na morte fatal de um deles -- ou se um menor de idade, Testemunha de Jeová, deve ser contrariado para receber transfusão de sangue. E é este último caso, envolvendo Adam (Fionn Whitehead), que fará a magistrada entrar numa confusão emocional por se aproximar do rapaz enquanto também enfrenta uma crise com o marido (Stanley Tucci).

Esta é a premissa do drama Um Ato de Esperança. Dirigido pelo britânico Richard Eyre (The Dresser) e baseado num bom romance de Ian McEwan, que também assina o roteiro, o longa-metragem faz um bom trabalho inicial de traçar duas narrativas distintas envolvendo a personagem de Emma Thompson. Há o seu trabalho no tribunal, duro e cruel, e também há a fragilidade de suas relações humanas, principalmente no curioso e estranho embate que trava com o marido -- ele, se sentindo sozinho e vendo a esposa dando apenas atenção ao trabalho, a comunica de que quer ter um caso.

No entanto, apesar do roteiro começar com força total, ele vai desacelerando aos poucos. A trama sobre os casos judiciais vai fechando até focar apenas na história de Adam, o Testemunha de Jeová que não quer receber sangue de outra pessoa em seu corpo -- discussão esta que uma outra produção britânica, Apostasy, realizou de maneira bem mais competente. Logicamente, esse enclausuramento da trama iria se acontecer, momento ou outro do filme, em uma única discussão, um único caso. Mas a forma que o roteiro faz isso faz com que tudo soe artificial e apressado demais.

Afinal, rapidamente, Fiona se aproxima de Adam e cria um vínculo afetivo com o rapaz. Surge do nada e parece aleatório demais -- por mais que tenha a coerência dela estar se sentindo abandonada pela marido. Faltou algo essencial que existe no livro de McEwan: desenvolvimento do rapaz que recusa a transfusão. Ainda que bem vivido por Fionn Whitehead (daquele filme interativo, Bandersnatch), o personagem é raso como uma folha de papel. Há pouco desenvolvimento, não dá pra entender muito bem a obsessão que ele nutre pela juíza. No livro, as coisas vão com calma. Devia ser assim.

Com essa centralização da vida profissional de Fiona apenas no caso de Adam, e havendo essa confluência de narrativa na metade da trama, logo Um Ato de Esperança se torna apressado, fugaz, exagerado. A importância da trama ainda está ali, a grandeza do que é discutido também. Mas nada parece fazer muito sentido. O final, então, é um dramalhão exagerado, extremamente lacrimoso, que cai de paraquedas ali. Se não fosse as boas atuações de Thompson (Walt nos Bastidores de Mary Poppins) e Tucci (Jogos Vorazes), o longa-metragem se perderia completamente no seu ato final.

Mas não é o caso. Um Ato de Esperança é um filme de roteiro falho, que poderia ser muito mais bem trabalhado. No entanto, o diretor acerta ao dar espaço para o elenco brilhar -- principalmente Thompson, radiante. A história, como ressaltado, não acompanha. Mas o longa-metragem ainda pode ser interessante para fãs da atriz e para quem busca dramas jurídicos que saiam da mesma coisa de sempre, ao estilo Grisham. Aqui, há humanidade, aprofundamento emocional e bons atores para uma boa sessão.

 

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