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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: ‘The Cloverfield Paradox’ mostra instabilidade da franquia


Quando foi lançado em 2008, Cloverfield -- Monstro dividiu opiniões. Alguns acharam toda a proposta cansativa, por conta do estilo de filmagem, enquanto outros consideraram o filme como um marco na ficção científica nos cinemas. E, neste último grupo, estava J.J. Abrams. Produtor e diretor de filmes como Despertar da Força e Além da Escuridão, ele apostou na ideia do monstro para criar, junto com sua produtora Bad Robot, um verdadeiro universo de ficção científica.

O segundo filme, sequência espiritual do original, foi o incrível suspense Rua Cloverfield, 10, com John Goodman e Mary Elizabeth Winstead, que mostra um trio de estranhos dividindo um abrigo pra se proteger do monstro. Surpreendeu pela qualidade e pela ligação com o de 2008, revelada apenas poucos dias antes do lançamento. Agora, o terceiro filme da franquia é The Cloverfield Paradox, lançado de surpresa na Netflix e que tenta dar origem à história de 10 anos atrás.

Infelizmente, porém, The Cloverfield Paradox é o mais fraco e decepcionante dos três filmes deste universo. A começar pela história de premissa estranha: o planeta vive uma falta de energia grave, necessitando de uma solução urgente e desesperadora. As nações, então, se unem e lançam um acelerador de partículas para o espaço com o objetivo de criar condições de produzir energia. Claro que as coisas saem do rumo e criam eventos bizarros e perturbadores.

A direção é do pouco conhecido Julius Onah, que dirigiu um punhado de curtas e o chato The Girl Is in Trouble. Em The Cloverfield Paradox, o cineasta não consegue criar. A trama, que tem roteiro assinado por Oren Uziel (dos razoáveis Shimmer Lake e Anjos da Lei 2), é pouco original: em alguns momentos, flerta demais com Alien: O 8º Passageiro, seja em estética ou estrutura narrativa. Parece um novo Vida, com a diferença de que não é uma homenagem.

No restante do filme, quando não há a tentativa de criar outro Alien, The Cloverfield Paradox erra a mão e fica parecido com produções B de ficção científica. Mãos que andam sozinhas, objetos que aparecem dentro de pessoas e paredes que se movem vão surgindo ao acaso, com explicações frágeis ancoradas em teorias de universos paralelos que fariam Nolan, de Interestelar, chorar de desespero. Ficções científicas podem não ter lógica. Mas precisa de um fundo de verdade.

Tudo isso ainda sem falar em falhas de direção gravíssimas, como o uso de celular e de carro em pleno caos energético.

Além disso, o longa-metragem tenta criar momentos de tensão e falha terrivelmente. Ainda há um escape estranho e sem explicação para a Terra que quase funciona -- se não fosse o fato dos personagens aparecerem cinco minutos e não ter vínculo algum com a audiência. É tudo uma grande bagunça em tela, que só não é pior por conta de alguns atores. Daniel Brühl, Chris O'Dowd e Gugu Mbatha-Raw se viram com o roteiro raso, dando alguma força à história.

Mas, é claro, o filme tem um ou outro ponto a ser elogiado. A ligação que dá com os outros filmes é interessante, ainda que tire a validade de algumas coisas apresentadas no longa de 2008. Isso pode deixar o espectador ligado na trama. E outro ponto elogiável são os trinta segundos finais. Apesar de efeitos especiais fracos, a cena é gratificante para os fãs dessa franquia, que devem prender a respiração por segundos. The Cloverfield Paradox, enfim, termina numa nota alta.

Ainda assim, o novo longa-metragem do universo Cloverfield é decepcionante. Sumiu toda criatividade de Cloverfield -- Monstro e toda tensão de Rua Cloverfield, 10 para dar lugar à um filme apático, pouco original e sem fôlego. Infelizmente, ele mostra que o universo criado por J.J. Abrams ainda é instável e precisa de mais cuidado em sua produção. E tomara que, na próxima vez, vá para os cinemas ao invés da Netflix. O streaming está mostrando não ter sorte com a sétima arte.

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