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Bárbara Zago e Matheus Mans

Crítica: ‘Pantera Negra’, mesmo com erros, acerta em tom social


Em 2017, a Marvel não obteve êxito no cinema: Thor: Ragnarok, Guardiões da Galáxia Vol. 2 e Homem-Aranha: De Volta ao Lar agradaram parte da crítica e o público, em sua maioria, os considerou “divertidinhos” - nada perto de Soldado Invernal ou Guerra Civil, por exemplo. Neste ano que se inicia, o estúdio comandado por Kevin Feige precisa mostrar serviço. E, felizmente para a legião de fãs da Marvel Studios, já começou com pé direito com o ótimo Pantera Negra.

O longa-metragem, comandado por Ryan Coogler (dos bons Fruitvale Station e Creed), mostra a origem do personagem que dá título ao filme e que já deu as caras, rapidamente, em Capitão América: Guerra Civil. Aqui, Pantera Negra -- ou T’Challa, para os íntimos -- tem sua origem desvendada e sua história exibida, em detalhes, na tela. Além disso, também é mostrado pela primeira vez o reino de Wakanda, um país fictício na África comandado pelo poderoso Pantera.

O herói, claramente, é uma das grandes apostas para a nova fase do estúdio, que também deve ter mais presença do Homem-Aranha, Homem-Formiga e da Capitã Marvel. A história, que acompanha o início do reinado de T’Challa e uma inesperada adversidade que surge em sua vida, é uma trama típica de origem e que não se ancora em personagem algum do Universo Marvel -- nem Robert Downey Jr., o coringa do estúdio para novos heróis, dá as caras por aqui.

Ou seja: o Pantera Negra, ao contrário da grande maioria dos filmes do estúdio que vimos até então, é criado com liberdade, ousadia e criatividade, sem amarras à tal da fórmula Marvel -- como se seus realizadores tivessem tido liberdade de criar em cima do herói. Até as piadas estão reduzidas! Mérito de um diretor inteligente e sem medo de arriscar, um elenco de ponta e uma produção visual que enche os olhos com as mais lindas paisagens africanas.

Mas vamos aos detalhes. Primeiro a direção de Ryan Coogler: é o filme de herói feito sob medida pra ele. Dono de um estilo ousado, ele não tem medo de filmar cenas de cabeça pra baixo ou de ângulos pouco prováveis. Ele também se arrisca a fazer um plano sequência de uma cena de luta, mas que não é tão bem coreografado e editado quanto ao que foi visto em Creed. Faltou mais esmero no CGI, que apresenta falhas claras. Mas vale pela ousadia da ideia.

Ele também sabe criar o universo como ninguém. Com uma trama que reverbera na criação da África e que também toca na figura do negro dentro da sociedade americana, como já foi visto em Fruitvale Station, Pantera Negra é mais sério, contundente e adulto. É político e não tem medo de o ser. Isso, sem dúvidas, surpreende a audiência -- acostumada a filmes mais leves da Marvel. O longa, afinal, terá uma importância imensa para jovens nunca antes retratados como heróis.

Sobre o elenco, sem palavras. Chadwick Boseman (King: Uma História de Vingança), Lupita Nyong’o (12 Anos de Escravidão), Andy Serkis (Senhor dos Anéis) e Forest Whitaker (Star Wars: Rogue One) estão sensacionais em seus papéis, ainda que alguns deles acabem se dedicando mais ao sotaque africano do que à atuação -- principalmente Boseman no início do filme. Daniel Kaluuya (Corra!) e Angela Bassett (Tina) estão bem, mas desperdiçados no roteiro.

Michael B. Jordan (de Creed), junto com boas sacadas de Coogler para a história e direção, consegue criar o melhor vilão da Marvel desde Loki -- pela humanidade de seu personagem, na minha opinião, ainda melhor que o deus nórdico. Cheio de camadas e com uma veracidade na tela que choca, o vilão Killmonger não tem momentos ruins. E a conclusão de seu personagem é emocionante e feita na medida. Jordan ficará marcado na Marvel.

No entanto, apesar da direção ousada, das atuações e da produção de cair o queixo, há erros graves além do CGI. O mais claro é o de roteiro. Ainda que Coogler seja um excelente contador de histórias, aqui ele comete erros no roteiro também assinado por ele. Frases de efeito permeiam a narrativa como “quem é seu Deus agora?”, “mate a mim, não mate ele” e outras coisas genéricas sem necessidade. Uma pena, já que isso tira a intensidade de boas cenas.

Além disso, há um exagero absurdo de didatismo. Não que isso seja incomum nos filmes de heróis, mas aqui as explicações estão em excesso e mal-posicionadas. Afinal, até a metade do longa, as explicações recorrem à flashbacks, narrações ou até sonhos com ancestrais. Depois, o filme insere o personagem de Martin Freeman (Hobbit), que está muito fraco, para explicar cada acontecimento, detalhe, personagem. Parece uma enciclopédia. Muito chato e sem sentido.

Esses erros, porém, não tiram o brilho do filme, que se consolida como um dos melhores longas de origem de heróis da Marvel -- junto com Guardiões da Galáxia e, talvez, Doutor Estranho. É um filmaço importante para uma grande parcela do público dos cinemas e até para a Marvel, que mostra que também consegue fazer filmes sérios, com poucas piadas e com um teor político elevado. Sem dúvidas, o universo dos heróis ainda tem muito para ser mostrado.

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