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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Silêncio dos Outros' é forte e urgente documentário


Que espetáculo triste e impactante é O Silêncio dos Outros, documentário que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 28. Dirigido pelos estreantes Almudena Carracedo e Robert Bahar, o filme conta a história de pessoas que foram afetadas pela ditadura de Francisco Franco, na Espanha, de maneira direta ou indireta. São várias e várias histórias que se sobrepõem e que, ao invés de causar inchaço narrativo, desperta o senso de urgência sobre a temática da ascensão fascista ao redor de todo o mundo.

O filme começa com um rápido e didático retrospecto, usando imagens de arquivo, sobre o que foi a ditadura franquista. É a deixa para que pessoas ao redor do mundo, que não estão acostumadas com a temática, consigam mergulhar no tema de maneira mais direta e coesa -- e isso vale para os espanhóis também, que são censurados sobre esse tema nas salas de aula. É, enfim, algo familiar para os brasileiros, que conviveram por 21 anos com uma ditadura militar que matava, torturava, silenciava e restringia o povo.

O que o documentário faz, então, é trazer à tona histórias de sofrimento no rastro de Franco. São pessoas torturadas e que exigem a condenação de seus torturadores -- num do casos mais chamativos, o torturado mora a poucas quadras de seu antigo e mais perverso torturador. Há, também, mães que tiveram seus filhos roubados e que nunca mais souberam do paradeiro. Idosas que só querem recuperar a ossada de seus pais, que estão jogadas em covas coletivas no cemitério ou enterradas debaixo da rua.

São histórias comoventes, demasiadamente humanas, que vão formando um retrato desesperador, triste, angustiante. Apesar de seguir um formato bem convencional de roteiro e narrativa, ele vai instigando o espectador a entrar mais e mais e mais na vida daquelas pessoas, até chegar em momentos de emoção total. O filme, que é produzido por Pedro Almodóvar, não tem medo de focar na emoção, dar close no rosto das pessoas chorando. Mas o que poderia transformar o filme num dramalhão no estilo da populesco da Record, deixa tudo mais humano, realista, impactante. É pra chorar junto.

O filme, assim como Uma Noite de 12 Anos, também é importante por outro motivo: os paralelos que podem ser traçados com o mundo atual. Ainda que O Silêncio dos Outros fale de coisas que aconteceram no século passado, ele lembra a todo tempo como o mundo é cíclico e as coisas, infelizmente, se repetem. O fascismo está ali, sempre à espreita, e é preciso saber identificá-lo. O filme, como um verdadeiro soco no estômago, joga isso o tempo todo em cima do espectador. A história não fala por si só. É preciso examiná-la, refletir em cima dela. O cinema faz isso. Este filme faz isso.

Destaque, também, para a boa cinematografia da própria Almudena Carracedo, que dá um tom especia à trama -- especialmente quando o filme o monumento aos mortos.

A conclusão do documentário, então, deixa qualquer um sem palavras. Difícil não derramar algumas lágrimas com a cena que se desenrola, ou com a conclusão da história da idosa María Martín, ou de como o processo se desenrolou -- ou seria enrolou?. É um daqueles filmes que ficam martelando na cabeça por dias. É urgente, necessário e, apesar de ser sobre o passado, atual. Quer ter mais consciência política, social e humanitária? Vá ver esse filme. A reflexão que ele causa não tem preço.

 

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