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Bárbara Zago

Crítica: 'O Retorno de Mary Poppins' é potencial desperdiçado


Como fã de musicais e de filmes da Disney, a notícia de que haveria uma continuação de Mary Poppins foi emocionante. A babá que encantou o mundo na década de 60 estaria de volta, sendo interpretada pela magnífica Emily Blunt (Um Lugar Silencioso). Como o próprio título já revela, O Retorno de Mary Poppins traz a icônica personagem chegando em seu guarda-chuva anos depois, quando as crianças da família Banks já são adultas. Para fazer uma crítica justa, é necessário enxergar o filme de duas formas: a primeira delas como uma homenagem à personagem de Julie Andrews e a outra como um filme original, que tenta contar uma história nova, ao mesmo tempo em que conta com a nostalgia do original. É uma pena que essas duas narrativas estejam tão discrepantes.

Após a morte de sua esposa, Michael Banks (Ben Wishaw) está prestes a perder sua casa para o banco. Seus três filhos ainda estão processando o luto por conta da mãe, ao mesmo tempo em que querem ajudar seu pai. Sua irmã Jane (Emily Mortimer) tenta lhe dar suporte, mas a situação é bastante crítica, e essa é a deixa para Mary Poppins aparecer. O primeiro contato das crianças com a babá já é logo uma referência ao filme original, o que é encantador por inúmeros motivos. Blunt faz jus à babá e se encaixa perfeitamente na personagem. Ela é meticulosa, elegante e perfeita de todos os jeitos.

Com canções originais, O Retorno de Mary Poppins traz uma trilha sonora admirável, ainda que não conte com músicas que ficam na cabeça, como é o caso do filme original com Supercalifragilisticexpialidocious, que tanto me fez treinar para conseguir falar a palavra inteira quando criança. Em alguns momentos, as cenas musicais se estendem mais do que o necessário, o que pode tirar a atenção, principalmente de crianças. Os números são muito bem produzidos, fazendo com que o espectador se sinta dentro de um parque da Disney. A magia da personagem, felizmente, continua presente em sua continuação.

O grande problema do filme se dá, por incrível que pareça, na falta de protagonismo de Mary Poppins. Ainda que Blunt nos presenteie com uma atuação incrível, a personagem acaba tendo menos força do que, por exemplo, Jack (Lin-Manuel Miranda), o acendedor de luzes da rua. Isso não desmerece em momento algum o trabalho de Miranda, mas traz uma confusão desnecessária ao filme. Junte isso à um roteiro fraco, a presença da babá é totalmente descartável. Ela traz ensinamentos muito bonitos e um incentivo a utilizar a imaginação belíssimo, mas que acabam indo por água abaixo quando o foco da história é apenas recuperar a casa.

Afinal, o roteiro acaba dividido em dois momentos. Um deles é a tal busca por documentos que ajudem a recuperar a casa. É a jornada de Michael e Jane Banks. O outro é Mary Poppins tentando deixar a vida das crianças melhor com imaginação. O problema é que, ao invés dessa segunda narrativa tomar conta da trama como um todo, tudo fica ao redor da recuperação da casa. As cenas com Mary Poppins e as crianças, assim, se tornam desnecessário e o filme ganha uma barriga em sua metade. A cena com Meryl Streep, por exemplo, é completamente descartável -- se não fosse pela atriz e pela boa música. Será que Mary Poppins é isso? Distrair crianças para recuperar uma casa?

Assim, diferente do filme de 1964, a continuação exige muito mais das crianças do que da própria Mary Poppins. E, de forma totalmente compreensível, nem sempre elas conseguem entregar o que o longa propõe. E isso se dá, principalmente, pelo fato de não ser um filme infantil. Ainda que contenha elementos criativos que fazem sentido ao público infantil, o filme pode ser um pouco cansativo para adultos, então imagine crianças.

Como fã do primeiro filme, foi uma satisfação rever na tela do cinema o cenário desenhado à mão, da mesma forma que no original. Isso dá uma força enorme para o filme e lhe traz um diferencial entre os musicais recentes. Como referência à personagem de Mary Poppins, a continuação não falha. Existem diversas sutilezas que retomam o primeiro. Porém, o diretor Rob Marshall (Chicago) tenta criar pequenas histórias para poder expor essas coisas, e acaba tornando o filme cada vez mais fraco.

É incrível poder ver Mary Poppins no cinema depois de tanto anos. De fato: se Emily Blunt tivesse mais espaço para explorar sua personagem, seria justo que ela concorresse ao prêmio de melhor atriz pela Academia. No entanto, não é isso que acontece na prática. Com pouco mais de duas horas, o filme possui um roteiro tão fraco que anula quase totalmente a presença da babá tão querida por todos nós.

 

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