Alec (Oliver Jackson-Cohen) é um homem que não vê muito futuro na vida. Dono de uma loja de reparo de aparelhos elétricos, mas vive cercado de dívidas. Além disso, não tem ninguém ao seu lado: os pais e os irmãos morreram e nunca se cassou -- sua vida amorosa se resume a transar com mulheres por aí. A coisa muda de figura, porém, quando um tio distante (Jonathan Pryce) se oferece para quitar todas as dívidas e dar nova vida ao protagonista. O preço? Se mudar, por um ano, para o interior do Canadá.
E é chegando lá que Alec descobre que não é "apenas" um reparador elétrico. Ele tem, na verdade, o dom de curar as pessoas das mais diversas doenças. Basta querer.
A partir daí, o longa-metragem constrói uma história extremamente simpática e emocionante sobre a jornada deste homem, que tenta lidar e aceitar o seu dom, enquanto se acostuma ao ritmo pacato e bucólico da pequena cidade. Nesse meio tempo, ainda por cima, acaba conhecendo a bela veterinária Cecília (Camilla Luddington) e a menina Abigail (Kaitlyn Bernard), que enfrenta um câncer já em fase terminal.
O diretor mexicano Paco Arango (Maktub) tem muito claro em mente o caminho a ser seguido pelo longa-metragem. Ainda que a opção de drama pastelão e bobagem gospel sejam os caminhos mais fáceis, ele opta por uma leve comédia de erros, com muita emoção, para contar a jornada do tal "curador" e da pequenina cidade. Ainda que tenha algumas histórias pesadas por trás, o tom do filme é pra cima, divertido, quase lúdico. Encaixa, perfeitamente, em qualquer dia da semana para a Sessão da Tarde, da Globo.
Há certos exageros na condução de Arango que incomodam um pouco, porém, e infantilizam demais o longa-metragem. O protagonista, por exemplo, precisa usar um carro que só encaixaria numa adaptação live action de algum desenho animado. É irreal demais. Além disso, há alguns efeitos especiais que tentam mostrar o poder divino de Alec, como a rede elétrica passando com força nos fios, mas que só causam um pouco de vergonha alheia. É bem intencionado, mas fica a dúvida se precisava estar ali.
Certo amadorismo técnico também surge em alguns momentos. Algumas passagens de cenas são demasiadas artificiais -- borrando a tela, por exemplo -- e há diálogos que não chegam à lugar algum. Novamente, volta-se para o tom infantil, sendo que o longa está longe de ser destinado principalmente às crianças. É esperançoso, mas o tema é sério.
No entanto, esses problemas não chegam a comprometer o longa-metragem. O Que de Verdade Importa consegue se recuperar e acertar em vários pontos. Primeiro: as atuações. Oliver Jackson-Cohen (O Corvo), encaixa bem no papel de homem confuso com seus dons; Kaitlyn Bernard (1922) é perfeita como a menina doente, mas que está sempre pra cima; e Camilla Luddington (Grey's Anatomy) é a mais chatinha, mas cumpre bem seu papel. Jonathan Pryce (Piratas do Caribe) e Jorge García (Lost) estão operantes.
O segundo ponto positivo -- e o mais atraente de todos -- é que o roteiro, do próprio Paco Arango, tem um quê de comédia de erros que ajuda muito a elevar o nível do longa e a tirar um pouco do estilo infantil demais. Em certo momento, é divertido ver a vida do personagem virando um caos e não ter mais nada a ser feito. Há, sim, saídas fáceis e conclusões previsíveis, mas não se pode exigir muito de um filme pronto para ser leve e despretensioso.
Há outras boas coisas também, como a importância religiosa que não é jogada na cara, como o recente Eu Só Posso Imaginar; e a boa trilha sonora que permeia o longa, ainda que óbvia -- qual filme sobre câncer não tem Over the Rainbow na versão de Israel Kamakawiwo'ole? Mas o que há de se destacar, por fim, é a boa intenção do longa-metragem. Toda a renda será revertida para instituições de caridade. Não é um aspecto do filme, e nem deveria ser considerada aqui, mas difícil esquecer. Belo gesto.
O Que de Verdade Importa é um filme por vezes infantil demais, em outros momentos erra no tom da história. Mas, no final, é um filme pra cima, emocionante, divertido e interessante de ser apreciado. Bom para se emocionar e sentir uma pontada de esperança na humanidade como um todo -- ainda que os créditos sejam dilaceradores.
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