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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'O Primeiro Homem' é filme grandioso, mas pouco empático


É difícil falar, nos cinemas, de histórias reais que possuem conclusões conhecidas por todo mundo. Afinal, o realizador precisa surpreender em outros aspectos, que não seja o final, e criar um forte vínculo com a audiência para que aquela produção não se torne chata ou pouco empática. Em Titanic, por exemplo, sabe-se que o navio vai afundar. Mas fica a paixão pelos dois protagonistas e o medo pelo futuro dos dois. Ou, em A Rede Social, sabe-se que o Facebook vai virar um grande sucesso, mas David Fincher conta a história de modo a despertar paixões dentro de cada um, elevando rivalidade e disputa.

Em O Primeiro Homem, o cineasta Damien Chazelle (Whiplash, La La Land) se desprende da temática musical para contar a história da chegada do homem à Lua. Para isso, ele mergulha na vida e mente de Neil Armstrong (Ryan Gosling), astronauta que se destaca na NASA por conta de sua racionalidade e seu preparo. É ele o escolhido, então, para ser o primeiro a pisar no satélite terrestre. Do outro lado, enquanto isso, ele precisará aprender a lidar com sua esposa (Claire Foy) num momento de grande tensão, enquanto também enfrenta o luto pela morte precoce de sua filha. Situação complexa.

Como nos outros dois filmes, Chazelle não contenta em ser pequeno, simples. O Primeiro Homem, como exige a história em si, é grandioso por natureza. Cada ângulo de filmagem, cada plano pensado pelo diretor, possui algum significado ou algum impacto na trama como um todo. A música, ainda que não seja a protagonista como em seus outros filmes, assume um aspecto importante ao dar o ritmo da história e aumentar a emoção. Dificilmente o longa-metragem não sairá com o Oscar de Melhor Edição e Melhor Mixagem de Som. É impressionante o trabalho feito por Phil Barrie na edição.

É interessante, também, uma estratégia estilística adotada por Chazelle: enquanto as cenas em Terra foram filmadas em película, as espaciais foram criadas digitalmente em alta definição. O que poderia resultar num contraste estranho, porém, acaba criando uma grande diferença de percepções e sensações. A chegada do homem à Lua, brilhantemente filmada, é um dos momentos mais bonitos e emblemáticos do "cinemão" recente. Como já se provou nos outros filmes, Chazelle é um diretor de mão cheia.

Há de se destacar, também, como é contido num patriotismo que poderia estragar a trama. A bandeira americana é vista com destaque uma única vez. Sem excessos ou firulas.

No entanto, há um problema básico e que bate de frente com a questão posta no início do texto: o conhecimento geral da história e a falta de empatia. Todo mundo sabe que Neil Armstrong vai ser o primeiro a pousar na Lua, que vai falar a clássica frase do "pequeno passo para o homem e grande salto para a humanidade" e por aí vai. Chazelle, então, precisaria de uma trama forte, empática, e que trouxesse o espectador para dentro do drama dos personagens. É preciso criar empatia por eles, torcer pelo sucesso da missão e, principalmente, sentir desejo genuíno para que tudo dê certo. Só que não funciona.

O personagem de Neil Armstrong, ainda que bem interpretado por Ryan Gosling (Blade Runner 2049) é um poço de frieza. Sempre deixando seus sentimentos represados, ele não causa identificação com a plateia, não emociona, não cria momentos marcantes. Tudo parece bater numa única nota, sem grandes nuances. É louvável que o diretor e o roteirista Josh Singer (The Post - A Guerra Secreta) tenham criado um personagem tão real e pouco romantizado, mas falta algo a mais para o cinema. Difícil torcer por ele.

Nem os personagens coadjuvantes, também bem interpretados, conseguem suprir essa demanda: Claire Foy (The Crown) é excessivamente racional e pouco compreensível como esposa de Armstrong; Corey Stoll (Ouro) é um divertido Buzz Aldrin, mas pouco explorado; Jason Clarke (A Hora Mais Escura) é o chatíssimo astronauta Ed White. Quase nenhum, afinal, consegue criar empatia e surpreender na tela. É tudo monótono e chato. A emoção fica restrita à três cenas, que despertam o ser humano em cada um de nós.

Há, também, alguns exageros por parte de Chazelle. Talvez na ânsia de trazer uma maior sensação de viagem espacial, há um excesso absurdo de câmera tremida, que causa enjoo. Se foi essa a intenção dele, erro absurdo de iniciante. Se não foi, é preciso tomar mais cuidado com o que faz. Chazelle, afinal, é um realizador jovem, ainda muito no começo da carreira, e que tem muito a aprender. É preciso entender que causar sensações ruins na audiência de maneira frequente, por mais bem intencionado que seja, é péssimo.

Mas, apesar disso tudo, O Primeiro Homem é um filme grandioso, impactante e bem filmado. Ainda que falte empatia e emoção com o que está sendo contado, é interessante ver um momento tão especial e de tão difícil reprodução eternizado na tela. Não é fácil traduzir em imagens e atuações, como Chazelle fez, o sentimento que Buzz Aldrin e Neil Armstrong tiveram ao pisar em solo lunar. O filme, felizmente, chega perto disso e ajuda a fazer cada um sonhar. Afinal, ao invés de mergulhar em emoções, o filme aposta na sensações. E isso, sem sobra de dúvidas, faz muito bem.

 

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