O Farol, novo filme do jovem e talentoso Robert Eggers (A Bruxa), não é simples. Repleto de camadas e simbologias, o longa-metragem se aproxima de produções como Mãe!, Midssomar e Hereditário para contar uma história introspectiva, complexa, e cheio de elementos psicológicos e simbólicos. Não é fácil desbravá-lo. E essa é a graça.
O longa-metragem conta a história de Thomas Wake (Willem Dafoe), o responsável pelo farol de uma ilha isolada e que contrata o jovem Ephraim Winslow (Robert Pattinson) para substituir o ajudante anterior e colaborar nas tarefas diárias. No entanto, a solidão e a brutalidade daquele ambiente passa a transformar drasticamente a relação dos dois.
Ainda com fortes influências da cultura inglesa dos séculos XIX e XX, Eggers mostra logo de cara que a trama não será fácil. A granulação da fotografia, magistralmente conduzida por Jarin Blaschke (A Bruxa), remete ao cinema russo da década de 1930, nos primórdios da sétima arte, e pro estilo de filmagem similar ao de Serguei Eisenstein.
Ao mesmo tempo, porém, o cineasta constrói uma trama com pilares modernos, repletas de referências mitológicas e uma didática quase ausente. A verborragia dos personagens de Dafoe (Aquaman) e Pattinson (Z: A Cidade Perdida) reverte a perspectiva de um cinema mudo, enquanto o elemento fantástico quebra o realismo de Eisenstein.
Esse embate entre visual e história, porém, não para por aí. O Farol, mais do que um filme de terror com assombrações e seres místicos, é uma fábula de horror sobre culpa, consciência, memória e solidão. Ephraim, o protagonista, batalha consigo próprio ao longo de 109 minutos de projeção. O caminho é tortuoso. E nem um pouco convidativo.
Pattinson, novamente, se mostra como um ator cada vez mais versátil -- esqueça o vampiro brilhante de Crepúsculo. Ele está maduro, coeso. Faz papéis difíceis. Aqui, ele encarna alguns dos momentos mais intensos de sua carreira. Não é fácil fazer um horror a partir da perturbação da mente. É preciso de coragem e muita, muita ousadia.
No entanto, apesar da boa interpretação de Pattinson, quem rouba a cena é Dafoe. O ator veterano emprega sua experiência no teatro para construir um personagem baseado em clichês -- do pirata bêbado e arrogante -- para ir além. Seja o sotaque, a forma que olha ou o modo de andar. Tudo ajuda, aqui, a construir algo maior, melhor.
Pena, porém, que o filme tem um problema muito similar ao recente Midsommar: o excesso de metáforas e simbolismos que, no final, se tornam lacunas estrondosas na sua conclusão. Perguntas pipocam o tempo todo sobre cenas, elementos, diálogos. Até certo ponto, isso é positivo. Mas o longa de Eggers, infelizmente, extrapola um pouco.
Nessa conjunção de fatores, O Farol se mostra como mais um daqueles filmes de horror que mergulham no pior e mais profundo do ser humano para assustar. No entanto, apesar disso, o filme não é apenas "mais um na multidão". Ainda que seja exageradamente lento e verborrágico em alguns momentos, ele é muito memorável.
Seja por conta dos diálogos afiados de Eggers e de seu irmão, Max; ou pelas boas atuações; ou pelo visual impecável. Ou, ainda, pelas inúmeras metáforas e simbologias que margeiam a história. Tudo isso faz com que o filme permaneça na mente do espectador, que matuta sobre o significado. De fato, Eggers é um diretor fora da curva.
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