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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Normandia Nua' é comédia francesa leve e muito divertida


É muito difícil fazer filmes que envolvam acontecimentos em larga escala, que envolvem cidades ou coisas do tipo. Principalmente quando são dramas humanos. Filmes de ação exigem apenas um protagonista durão e acabou. Dramas, não. É preciso ter muita qualidade de roteiro para fazer com que o drama não fique restrito para alguns poucos personagens. Ou, então, se torna algo muito genérico ou com tramas em demasia. Fica difícil de acompanhar e se identificar. O roteiro precisa ser no ponto. Senão, desanda.

Recentemente, o cinema viu alguns casos de longas que tentaram aproveitar esse tipo de história, envolvendo cidades inteiras. Teve O Doutor da Felicidade, com Omar Sy, sobre um médico charlatão. Deu errado: são muitas tramas, pouca empatia. Decepciona. Teve também Insubstituível, outro drama francês sobre um médico do interior que está morrendo e precisa de um substituto. Funciona em partes: o longa-metragem acaba se escorando demais no protagonista e esquecendo de fazer o que realmente importa ali.

Agora, finalmente, chega um filme que acerta o roteiro na medida e faz com que a cidade se torne uma personagem: Normandia Nua, dirigida por Philippe Le Guay (Pedalando com Molière) e protagonizada pelo onipresente e talentoso François Cluzet (Intocáveis). A trama acompanha uma pequena cidade da Normandia, no noroeste da França, que passa por uma crise. Quase todos seus habitantes são fazendeiros, mas o governo deixou de oferecer incentivos. Eles já não sabem mais como manter sustento.

Inicialmente eles fazem uma greve aqui e acolá, mas não funciona. A saída para a situação surge para eles, então, quando um fotógrafo americano (Toby Jones) decide fazer uma foto da região. Só que não é um simples retrato do cotidiano ou de paisagens bucólicas. A ideia é fazer com que todos os moradores posem pelados. Para o prefeito Georges Balbuzard (Cluzet) é a chance de chamar a atenção da França para a situação e fazer com que a crise gerada nos pastos e fazenda seja, talvez, revertida.

Ao contrário do citado O Doutor da Felicidade, a trama não faz a besteira de focar apenas em um ou outro personagem e nem colocar arcos complexos em indivíduos em demais. Com roteiro escrito pelo próprio Le Guay e por Olivier Dazat (Como um Chef), Normandia Nua faz o que deve ser feito: desenvolve todos os personagens com harmonia e coesão. A cidade, aos poucos, vai ganhando um aspecto complexo, intrigante e empático. Personagens específicos são desenvolvidos, mas quem ganha é o todo.

O objetivo central ali está claro, bem definido e com ares coletivos: tirar a foto, todo mundo junto e pelado, e evitar que a cidade entre em falência. É uma trama acertada por si só, já que tudo passa pelo coletivo. Uma atitude influencia o todo. Muito esperto.

Ainda mais esperto é a escalação do elenco, que dá um show. Cluzet, novamente, mostra o porquê de ser considerado um dos grandes atores da França em atividade. Sabe trafegar entre o drama, a comédia. Cria vínculos com o público. Toby Jones (O Espião que Sabia Demais), apesar da dificuldade do idioma, também se destaca. Possui duas cenas hilárias, que fazem rir com vontade. Destaque, também, para Patrick d'Assumçao (A Aparição) e Grégory Gadebois (Marvin). Dois grandes atores em cena.

Vale destacar, também, que o roteiro conta com boas piadas baseadas não apenas em fisicalidades, mas também em inteligência. Algumas observações de personagens são divertidíssimas, como uma fala de Cluzet sobre o costume dos franceses em brigar.

Pena, porém, que haja dois arcos problemáticos de personagens que acabam tirando um pouco do brilho de Normandia Nua. O primeiro envolvendo o arco de uma família de Paris que decide morar na tal cidade. O longa começa sendo narrado pela filha (Pili Groyne) e possui cenas diversas. No final, não faz sentido nenhum. Não agrega para a narrativa, não faz diferença. Sem eles, seria melhor. Outro é a trama de Gadebois e da esposa. É um arco machista e que poderia ter uma boa redenção no final, deixando tudo a cargo da esposa. Mas não. A palavra final continua sendo do marido. Podia ser melhor.

Mas, ainda assim, Normandia Nua é um filme que deve agradar todos que buscam uma comédia inteligente, com uma trama bem amarrada e com bons personagens. A típica e esperada comédia francesa de costumes e situações divertidas. Se o machismo de um dos arcos não te incomodar, com certeza será um entretenimento da melhor qualidade.

 

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