Em 1977, a Mossad, agência de inteligência israelense, recebe a missão do primeiro ministro de resgatar um grupo de judeus etíopes, no meio de uma guerra civil sangrenta, e levá-los para Israel. Enquanto isso, Ari Kidron (Chris Evans), um charmoso agente israelense, reúne um grupo de pessoas para formar uma equipe de ajuda no êxodo de judeus. Esta é a trama de Missão no Mar Vermelho, novo filme original da Netflix que, depois de ficar um ano na gaveta, chega ao streaming nesta quarta, 31.
Dirigido por Gideon Raff (Rastros de um Crime), o longa-metragem parece uma mistura interessante de Argo com Guerra ao Terror. Afinal, o filme acerta de cara ao não se prender totalmente na questão diplomática chatíssima de deportar pessoas para, ao invés disso, trazer um aspecto mais de espionagem internacional -- sem cair, claro, num 007 qualquer. É, em resumo, um filme que acerta no tom e, ao longo de suas mais de duas horas, traz boas cenas com uma interessante história social no país da África.
É difícil entender, logo de cara, o motivo que fez Missão no Mar Vermelho ficar engavetado tanto tempo. Ao contrário de outras produções megalomaníacas da Netflix, como o fracasso Operação Fronteira, este novo filme tem um apelo social interessante, além de jogar luz sobre um problema real na África e que é pouco discutido -- hoje, mais de 20 anos depois dessa história original, a situação da Etiópia ainda não é totalmente clara. Além disso, Gideon Raff, apesar de não ter grandes produções em seu currículo, mostra logo de cara que soube conduzir a história. Nada muito grandioso, mas vai bem.
O elenco também está bem. Chris Evans mostra, mais uma vez, que sabe ir além de seu personagem em Vingadores. Ele tem noção dramática e sabe modular as emoções de acordo com o exigido -- além disso, o bom preparo físico, sem dúvidas, o ajudou nas cenas mais difíceis. Michael Kenneth Williams (12 Anos de Escravidão) também rouba a cena quando aparece. É o complemento ideal à tensão do personagem de Evans. Ben Kingsley (Gandhi) e Haley Bennett (Garota no Trem) estão bem, mas com pouco espaço.
No entanto, conforme o filme avança, é possível compreender o porquê de ter sido escanteado por algum tempo pela Netflix. O longo, em determinado momento, começa a se complicar demais. O que era para ser uma narrativa simples e ágil ao estilo de Argo começa a tecer uma série de narrativas desnecessárias. Mas o que mais incomoda é o fato do roteiro, escrito pelo próprio Raff, não trazer camadas aos personagens e suas ações. É tudo muito unilateral e parece que os israelenses são os bons moços de toda a História. Falto algum elemento que mostre algum outro lado.
Dessa maneira, Missão no Mar Vermelho começa um pouco menor do que começou. Apesar de começar como uma típica produção nota 4, acaba caindo para uma nota três pelo leve aspecto de propaganda -- algo que ainda atinge um número absurdo de produções hollywoodianas, seja pela oposição com muçulmanos, chineses ou russos. É algo que desanima um pouco. Mas, no geral, ainda é um filme que funciona. Tem o aspecto social, histórico, político. É boa a recriação da missão. Empolga, no geral.
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