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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Macabro' é filme que decepciona e se perde em ambições


Ao contrário do cinema norte-americano, o Brasil demorou a desvendar as possibilidades dos filmes sobre crimes reais. Apesar de ter um clássico em sua história, com O Bandido da Luz Vermelha, não há um verdadeiro blockbuster, um filme policial pipoca. Esse gênero começa a ser desenvolvido agora no País, principalmente por conta do longa-metragem, a estrear em 2020, que conta a história de Suzane von Richthofen.

Mas antes desse, chega um longa-metragem que praticamente abre a porteira dos filmes sobre crimes reais no Brasil. É Macabro, longa-metragem de Marcos Prado (do bom Paraísos Artificiais) que conta a história real dos irmãos necrófilos do Rio de Janeiro. Eram dois garotos, negros e pobres, que matavam mulheres na região serrana do estado fluminense para, depois de mortas, estuprá-las cruelmente, sem pudor.

Aqui, no longa-metragem, a figura que conduz as investigações sobre os dois irmãos é o policial Teo (Renato Góes). De índole duvidosa, ele foi designado a resolver o caso por dois motivos. O primeiro é que ele é natural da cidade na qual os irmãos agem. E, também, para dar um "abafa" num crime que circunda sua vida. Ele matou um homem inocente, numa comunidade carioca, após confundir uma furadeira com uma arma.

E assim se desenvolve a história, repleta de clichês americanos, para dar agilidade na trama e mostrar os dramas humanos envolvidos em toda essa trama perturbadora.

Há de se destacar, primeiramente, que todo frame do filme é tecnicamente impecável. A luz, a fotografia e o posicionamento dos atores são exemplares, dando gosto, no começo, de assistir. Percebe-se, assim, um capricho com a produção e na forma como Prado conduz essa trama. Não é algo qualquer, algo feito sem zelo. Pelo contrário: é um filme com potencial, repleto de boas intenções, mas que peca em dois grandes pontos.

O primeiro deles, já comentado, é o pé exageradamente fincado no cinema norte-americano. Claro: desenvolver um subgênero quase do zero é difícil, com particularidades. É natural que Prado, e seus assistentes, se baseiem no que existe por aí. Mas falta brasilidade numa história... brasileira. A forma como a trama é conduzida é americana demais, artificial demais. Falta um tempero que a distingua do restante.

No final, nem a atuação correta de Góes (excelente em Legalize Já) e os bons efeitos práticos ajudam a salvar essa sensação. Ela fica impregnada em todo longa-metragem.

Mas o que quebra a experiência, de fato, é uma tentativa ridícula de Macabro em entrar no terreno pantanoso do preconceito estrutural brasileiro. Aqui, há duas opções. Ou o filme acerta grandiosamente nessa questão, transformando um drama criminal em algo mais reflexivo; ou se torna uma obra decepcionante e superficial, que passa por cima do assunto, apenas para mostrar como a trama refletiu sobre algo importante, grandioso.

Obviamente, o longa-metragem de recai no segundo ponto. Definitivamente não dá certo. A história do protagonista, que mata um homem inocente, nunca é problematizada. Nunca tem sua profundidade explorada -- pelo contrário, o público torce por ele quase sem questionar esse fato. Há uma questão sobre os poucos negros na cidade, mas os que existem são estranhos. Um deles é de um culto nunca explicado.

É vergonhoso. Parece uma lição de casa feita às pressas. Alguém disse que era melhor abordar a questão racial, resultando nisso. Decepcionante, para dizer o mínimo.

Assim, Macabro é um filme que tinha muito, muito potencial. Tecnicamente, é quase perfeito -- som, efeitos, iluminação, fotografia e até atores. Mas essas duas falhas de roteiro, e a ausência de uma identidade, são imperdoáveis. Pode até distrair durante uma busca por um entretenimento sem muita profundidade, sem preocupação. Afinal, se você parar para pensar por cinco minutos, verá problemas. E a experiência se acaba.

(*) Filme visto durante cobertura especial da 43ª Mostra Internacional de São Paulo.

 

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