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Foto do escritorMatheus Mans

Crítica: 'Excelentíssimos' faz registro histórico do impeachment


Recentemente, a cineasta Maria Augusta Ramos lançou o excelente O Processo, documentário de longa-metragem que mostra os bastidores do governo durante o atribulado processo de impeachment de Dilma Rousseff (PT). Agora, chega mais um longa para lançar luz sobre o processo: Excelentíssimos, de Douglas Duarte, que registra os principais momentos do impeachment em suas mais variadas facetas: a origem na eleição de 2014, o papel do PMDB, a articulação do PT, dentre outras coisas.

Assim, ao contrário do filme de Maria Augusta, não há um foco em trazer bastidores ou coisas desconhecidas do público em geral -- dos quase 150 minutos de projeção, apenas um ínfima parte mostra momentos que não passaram no Jornal Nacional ou que não foram noticiados. Douglas Duarte (Sete Visitas) está consciente de sua tarefa ali: organizar de maneira coesa todos os acontecimentos ao redor do impeachment em uma narrativa clara, bem estruturada e que permita a qualquer um entender o processo.

E isso ele faz muito bem. O roteiro é bem estruturado e detalhado, apesar de algumas cenas desnecessárias e momentos que não dizem nada. Ainda que não haja grandes arroubos criativos -- o tema dá pouco espaço para isso, afinal --, não há equívocos e pouca opinião incrustada ali. Claro, Duarte tem o seu "lado" político e fica evidente isso em alguns recursos de edição, algumas cenas valorizadas e algumas opções narrativas. Mas nada que atrapalhe ou interfira demais no andamento geral do longa-metragem. Então, leitor extremista, não se preocupe. Não há exageros.

No entanto, para a maioria do público que quer saber mais sobre o impeachment e sobre o processo que derrubou Dilma, Excelentíssimos pode ser um pouco frustrante. O fato é que o longa é uma grande linha do tempo, recheada com boas imagens e conduzida por um curioso roteiro. Mas, mesmo assim, não deixa de ser a linha do tempo de algo que foi vivido por mim, por você e por todos os brasileiros há cerca de dois anos. Ainda que desgastante e cheio de desdobramentos, é um acontecimento vivo na memória e que, infelizmente, já caminhou no País e ganhou novos contornos recentes. É um filme novo, mas datado.

Fica cansativo, então, reviver e relembrar aspectos básicos dessa história, por mais importante que isso seja. Parece um déjà vu forçado, um resgate histórico importantíssimo de algo que acabamos de viver. Talvez se Duarte tivesse posto mais imagens próprias do que de arquivo ou, até mesmo, de jornais e programas eleitorais, o resultado seria mais fluído e interessante para o público de hoje. Ou, ainda, se fosse menor do que seus 150 minutos. Assisti-lo acaba se tornando realmente estafante.

Mas para gerações futuras, Excelentíssimos será de serventia imediata e precisa. Mais do que um filme para entendermos o que acontece no País hoje, é um documento histórico que contextualiza e registra este importante e polêmico momento da política nacional. Será, sem dúvidas, um instrumento de professores de História para que seus alunos consigam compreender a magnitude -- e a bizarrice -- que envolveu todo o impeachment. Pode não fazer muito sentido hoje, mas vai ser um farol sobre esses tempos nebulosos no futuro. Sorte dos que terão acesso a um filme que explique o País de hoje.

Excelentíssimos é um longa que pode soar vazio e repetitivo para quem o assiste hoje. Afinal, faz o público reviver algo que acabou há pouco tempo -- ou que, de certa forma, ainda está tendo impacto no Brasil atual. Mas sua precisão de roteiro, detalhado e aprofundado, e a direção fria e talentosa de Douglas devem fazer com que Excelentíssimos se torne uma das principais ferramentas para que gerações futuras entendam o processo de transformação político que vive-se hoje em dia. Não é fácil de entender, não é simples de aceitar e compreender. É preciso de filmes que expliquem tudo. As novas gerações, felizmente, terão Excelentíssimos à disposição.

 

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