Federico Fellini foi um cineasta como poucos. Original e extremamente provocativo, ele fez história no Cinema com longas como A Doce Vida e Oito e Meio -- além de ter ganho quatro Oscars, dois Leões de Prata, uma Palma de Ouro e, em 1990, o prestigiado Prêmio Imperial concedido pela Associação de Arte do Japão, que funciona como uma espécie de Nobel. É, sem dúvidas, um gênio que despertou euforia, criatividade e muitas paixões na vida de seus fãs.
Uma delas é Lucy, a personagem principal do filme Em Busca de Fellini, que estreia no País nesta quinta-feira, 30. Perdida na vida, a jovem de 20 anos ainda não conseguiu sair da saia de sua mãe (Maria Bello) e sua rotina é resumida a assistir filmes em seu quarto. As coisas só mudam, porém, quando ela encontra os filmes de Fellini. Assim como Amélie Poulain mudou sua vida depois de encontrar a caixa em seu apartamento, Lucy muda a vida com as histórias do italiano.
E é aí que começa o filme. Apaixonada, Lucy, muito bem interpretada por Ksenia Solo, de Orphan Black, decide sair de casa, mesmo com a mãe doente, e parte para a Itália com um sonho de conhecer o cineasta. Assim, dezenas de confusões começam a acontecer no seu caminho, como um típico road movie. Paixões explodem, vidas se cruzam, os destinos são traçados e, é claro, a vida começa a avançar e a se transformar num ritmo rápido e cada vez mais constante.
Toda essa história é regida pelo diretor Taron Lexton, do razoável Struck, mas que se perde aqui. A ideia do diretor sul-africano é clara: contar a jornada da garota, que é parcialmente verdadeira, como se fosse um verdadeiro filme de Fellini, com um visual onírico e repleto de personagens surreais. Há, também, uma insistência de criar vínculos com filmes do cineasta italiano -- principalmente Estrada da Vida e a clássica cena na qual é dito à Giulietta Masina que até uma pedra tem propósito.
No entanto, isso, infelizmente, não funciona. O filme, que se propõe a ser uma espécie de comédia romântica de descobrimento pessoal, como já foi feito com Woody Allen em Paris e Manhattan. O roteiro, porém, é um pouco preguiçoso: várias soluções são fáceis demais e as decisões de algumas personagens são incabíveis. Como a mãe deixa a filha ir pra Itália tão rapidamente? Como a menina decide ir pra Itália com mãe doente? Como ela consegue o telefone de Fellini?
São várias as situações que tiram o espectador da narrativa e diminuem o seu impacto. Os aspectos surreais ainda ajudam a desacelerar a narrativa, que acaba ficando confusa e um tanto quanto irreal demais. E aí você diz: mas Fellini usava e abusava de recursos surreais! Sim, usava. Mas era diferente: Fellini construía, desde um começo, uma atmosfera pra isso e não a perdia em momento algum. Em Busca de Fellini, não. O filme propõe uma coisa e a falta de toma fica evidente.
A coisa só não sai dos trilhos de vez por conta das atuações interessantes de Maria Bello e Ksenia Solo. Esta última, aliás, consegue fazer um tipo de pessoa perdida no mundo e que tenta encontrar um caminho. Como citei rapidamente acima, lembra muito a Audrey Tatou em Amélie Poulain. Destaque também pra a fotografia, que transita entre dourado -- sonho e irreal -- e os tons pastéis, para as cenas sobre a realidade e que mostram a doença da mãe. As imagens da Itália também são uma delícia de se ver. Dá vontade de largar tudo e ir pra lá.
O resultado final, porém, é um tanto quanto decepcionante. Dado o estilo inconfundível de Fellini, a ideia era muito boa se bem executada. Mas dado os problemas de produção, o longa fica muito baixo e parece apenas uma homenagem fria e distante para um dos cineastas mais disruptivos de todos os tempos.
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