O FYRE Festival estava cercado de megalomania. Idealizado pelo empreendedor Billy McFarland e pelo rapper Ja Rule, o evento musical deveria reunir algumas das bandas mais conhecidas do planeta num cenário paradisíaco nas Bahamas -- mais especificamente, numa das ilhas de Pablo Escobar. Mas deu tudo errado: a organização não conseguiu arrumar tudo a tempo, perderam direito de fazer o evento na tal ilha, as acomodações pareciam barracas de camping e o público, classe alta americana, ficou absolutamente revoltado com a falta de compromisso da organização geral do festival.
Esse é o tema do bom documentário FYRE Festival: Fiasco no Caribe, nova produção original da Netflix e que mergulha nas bizarrices e nas mentiras que envolveram o festival. Com direção de Chris Smith, do ótimo Jim & Andy, o longa falou com a maioria dos envolvidos -- menos Ja Rule e Billy, é claro -- e conseguiu montar um roteiro coeso, cadenciado e que faz sentido ao final da narrativo. Poucas coisas na história ficam com buracos ou contadas de maneira estranha. Afinal, ali são pessoas de várias profissões, origens e níveis de envolvimento, que ajudam a dar um panorama geral sobre o caos.
É interessante notar que, mesmo sem nenhum tipo de material de simulação, Smith conseguiu dar um panorama incrível sobre os bastidores do FYRE. Para isso, ele reuniu um material de arquivo impressionante, espécie de making-off do evento, que ajudou a dar o tom geral sobre o que acontecia. Os mandos e desmandos estão todos ali, registrados pelas câmeras da própria organização. É interessante como Billy, o grande picareta dessa história toda, também não possui só uma imagem pintada por parte dos entrevistados. Há muitas gravações dele próprio que ajudam a cravar a personalidade.
Não há grandes estripulias de roteiro ou de câmera, que seguem quase uma fórmula. É levemente burocrático. No entanto, a boa fotografia de Jake Burghart, Cory Fraiman-Lott e Henry Zaballos chama a atenção e consegue criar uma união entre o material de arquivo e o que está sendo filmado unicamente para o documentário. É algo aparentemente banal, mas que ajuda o espectador a não sentir uma quebra de linearidade na narrativa a todo momento. Fica menos cansativo e mais interessante.
Ao final, fica um gosto ambíguo na boca. Há o senso de bizarro e absurdo por toda a situação, principalmente quando Smith mostra detalhes da vida de Billy após a confusão geral; e há a forte noção de injustiça, principalmente no que se refere ao cidadãos da ilha que ocorreria o festival. Eles trabalharam dias a fio, quase sem descanso, pra depois receber o calote do organizador. É um absurdo e os depoimentos são revoltantes. FYRE Festival é, assim, um documentário pra todos públicos, todos gostos. Vai se entreter quem busca histórias bizarras da vida real. E esta é uma das grandes.
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