Muitos podem dizer que qualquer épico é exagerado -- vide as batalhas grandiosas de O Senhor dos Anéis, os efeitos especiais marcantes de Ben-Hur, a jornada emocional de Coração Valente. Mas são exageros pontuais, bem pensados, e que acabam fazendo sentido na trama como um todo. Não é o caso de A Verdadeira História de Ned Kelly, que exagera no título, na atuação do protagonista e até na sua intensidade.
Dirigido por Justin Kurzel (de Macbeth: Ambição e Guerra), o longa-metragem conta a história de Ned Kelly (George MacKay), um rapaz criado num ambiente difícil e que, rapidamente, acaba se tornando uma lenda na Austrália. Afinal, mais do que cometer crimes e assassinatos, este fora-da-lei quer vingança pela prisão injusta de sua mãe e, de certa forma, fazer com que sua disfuncional família seja enfim respeitada no País.
Os personagens, aqui, vão e vêm -- Russel Crowe (Gladiador), Nicholas Hoult (Tolkien) e Charlie Hunnam (Rei Arthur) mais fazem participações especiais do que, de fato, atuam. Não há uma constância, nem uma história para causar empatia. A trama de Ned Kelly, aqui escrita por Shaun Grant (A Síndrome de Berlin), não consegue ser marcante, emocional ou qualquer coisa que valha. Tudo é muito rápido, óbvio e sem graça.
Kurzel parece que sabe disso e acaba concentrando todo peso dramático nas costas do bom George MacKay (Capitão Fantástico). É ele que precisa emocionar, chocar, aterrorizar, e por aí vai. Basicamente, o cineasta quer que o rapaz carregue o filme nas costas. E, em parte, até que funciona. MacKay é um ator competente, com uma carreira cada vez mais impressionante, e que poderia segurar o filme em outras situações.
No entanto, em A Verdadeira História de Ned Kelly, há esse exagero citado no começo do texto. Tudo é demais. Os gritos, as pausas, os silêncios, as explosões narrativas. É uma montanha-russa de sentimentos que não agrada e faz com que o longa se torne chato, cansativo. Já na metade, a vontade é que tudo corra ainda mais rápido para que a experiência termine. Kurzel, afinal não sabe dosar as emoções.
A batalha final de Ned Kelly é a síntese dessa bagunça. É usado um efeito luminoso desesperador. A vontade é só virar o rosto e não ver mais nada -- atenção, epiléticos, não vejam esse filme! -- ou até sair da sessão. George MacKay grita, grita, grita. E não é um grito que atesta a loucura de seu personagem. É um grito vazio, sem vida. Problema, novamente, de direção. Faltou direcionamento para seus atores e seu enredo, no geral.
O que tem de bom, aqui, são as rápidas participações -- Crowe e Hoult estão ótimos -- e a ambientação. Mas isso não é o bastante para salvar um filme tão instável quanto A Verdadeira História de Ned Kelly. Falta constância, falta uma direção mais firme. Quer criar um épico? Trabalhe profundamente nisso. Não adianta exagerar em tudo. No final, o resultado é só um filme chato e esquecível. Como é o caso deste aqui.
(*) Filme visto durante cobertura da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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