Que grande atriz é Glenn Close. Depois de ter roubado a cena em filmes como Albert Nobbs, A Casa dos Espíritos e até 101 Dálmatas, a estrela norte-americana agora obtém um passaporte direto para o Oscar de 2019 com o forte drama conjugal A Esposa. Dirigido pelo sueco Björn Runge, o longa-metragem se aprofunda na vida do casal Joe (Jonathan Pryce) e Joan (Close). Ele é um escritor consagrado e que agora ganha Nobel de literatura. Ela, enquanto isso, é a esposa que vive à sombra do marido, apesar de muitos acreditarem que, no fundo, ela é muito mais do que isso -- e esconde segredos.
A trama não é totalmente original. A história, de certa maneira, reverbera no recente Colette, protagonizado por Keira Knightley, e a construção dos personagens principais já foram vistos uma infinitude de vezes por aí. A direção de Runge (do agridoce Happy End) também vai para um caminho óbvio. Ele deixa a câmera distante, sem muito interferência na cena. Desde o começo, ele assume que o filme será de Glenn Close e de Jonathan Pryce (O Homem que Matou Dom Quixote), deixando os dois brilharem na tela, sem receios, sem filtros. E que grande acerte esse do cineasta sueco.
Voltemos, então, a falar de Close. Ela, que já foi injustiçada em premiações, mostra que é uma atriz consistente e extremamente dedicada. Sua personagem é repleta de camadas e sutilezas, exigindo uma atuação mais contida, sensorial e emocional da atriz. E ela corresponde sem problemas, à altura, entregando até mais do que a personagem exige. É o que faltou para Knightley, fazendo novamente uma comparação com Colette, para que o drama de época se tornasse forte e provocativo. Aqui, colocando a força do filme na atriz, essa intensidade dá e sobra. Ela, sem dúvidas, merece o Oscar de 2019.
O veterano Jonathan Pryce, incrivelmente, consegue igualar a força interpretativa de Close -- no entanto, de uma maneira mais explosiva. A complexidade que ele emprega no seu personagem, cheio de contradições e problemas, ocupa o espaço que Close, às vezes, precisa deixar para os outros brilharem. Principalmente quando o fraco Max Irons (Colheita Amarga) é exigido em demasia e não consegue entregar a atuação que precisa. Pryce, gentilmente, eleva novamente o tom geral do filme e reafirma as boas atuações que estão sendo exploradas ao longo da trama. Merecia atenção no Oscar.
Mas, é claro, um filme não pode se ancorar apenas em seus atores. O roteiro, como ressaltado, possui algumas obviedades e algumas situações não são bem exploradas. Há um conflito de Joe com uma fotógrafa (Karin Franz Körlof) que morre de uma cena para a outra e nunca mais é tratado. O mesmo vale para algumas situações com o personagem Nathaniel Bone (Christian Slater), que está no filme apenas para botar fogo numa antiga suspeita. E o final é controverso. Ainda que uma última cena compense, o personagem de Pryce tem uma conclusão que pode desagradar -- e com muita razão.
Assim, A Esposa é um forte drama conjugal sobre mulheres que aceitam, por algum motivo, ficar à sombra de seus maridos. É o momento da explosão, da libertação e da magia de se ver livre. Mas é, acima de tudo, um filme de atores, de Glenn Close e de Jonathan Pryce. Dois grandes profissionais que mostram como é maravilhosa a combinação de estrelas que sabem como dividir uma cena, como amplificar atuações com a ajuda um do outro. É uma aula de atuação que merece ser vista. E Glenn Close só não leva o Oscar se Olivia Colman, de alguma maneira, conseguir passar na sua frente.
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