Como já ressaltamos aqui no Esquina em várias oportunidades, a Netflix decepciona quando o assunto é cinema. A plataforma de streaming não conseguiu, em três anos de produção, o filão perfeito de longas -- com exceção de Okja e Beasts of no Nation, que ficam entre o bom e o ótimo. Mas agora o serviço resolveu dar um tempo nas grandes produção pra investir no drama simples -- mas impactante -- 6 Balões, comandado pela jovem diretora Marja Lewis Ryan.
O longa-metragem conta com premissa simples. Uma mulher (Abbi Jacobson) está fazendo uma festa surpresa para seu namorado. Na correria dos preparativos, que ainda conta com a comemoração do dia da independência americana, Katie vai buscar seu irmão Seth (Dave Franco) com a pequena sobrinha Ella (Charlotte Carel). Só que, ao chegar na casa do rapaz, a irmã descobre que ele voltou a usar heroína. Aí entra a corrida contra o tempo pra levar o rapaz à reabilitação.
É excelente e surpreendente, então, a estreia de Marja Lewis na direção. Firme, poética, sem medo de chocar, ela toca na ferida do assunto e vai fundo numa mistura de drama familiar e degradação pessoal. Para ela, então, lidar com o tema das drogas não é só chocar como fez Requiem para um Sonho ou Kids, nem falar do tema de maneira poética, apenas, como fez o razoável Paraísos Artificiais. Ela une as duas linguagens e cria um produto muito particular e interessante.
Parte desse sucesso também está nas mãos de um elenco afiadíssimo. Dave Franco, mais uma vez após O Artista do Desastre, se mostra um ator de surpresas e boas possibilidades interpretativas. Abbi Jacobson, enquanto isso, está encarregada de fazer um tipo que mais internaliza suas dores e frustrações, deixando os sentimentos debaixo de camadas densas, profundas. Funciona bem. Ela precisa parar de fazer apenas comédias como Vizinhos. Tem mais potencial.
Vale ressaltar, também, a atuação da pequena Charlotte Carel -- que ainda divide as cenas com a irmã Madeline. As duas são crianças talentosíssimas e conseguem passar a forte e inocente dor daquele momento.
O filme ganha ainda mais força, porém, quando Katie toma uma decisão controversa e uma metáfora visual -- até então estranha dentro da narrativa de 6 Balões-- acaba tomando uma proporção triste e profunda. É difícil ver algumas cenas, ainda mais quando uma certa raiva orgânica é despertada contra as personagens, que parecem atados perante algumas dessas situações retratadas por Marja Lewis Ryan. A digestão da história, então, vai ficando difícil e de significados complexos.
6 Balões é um drama independente, simples e de força incomparável -- afinal, temas mais complexos ficam ainda mais brutos quando tratados de forma simples, sem grandes firulas. É uma aposta certeira da Netflix, que comprou os direitos e o levou para alguns festivais de cinema. Tomara que isso seja uma tomada de rumo do serviço de streaming, que deve ver o que vale, de verdade, para seu público. Menos Cloverfield: Paradox e mais 6 Balões ou até Aniquilação.
A Netflix precisa, afinal, de bons filmes. E 6 Balões pode ser um bom começo nessa possível retomada.
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