Confesso que fiquei apreensivo quando recrutaram Rian Johnson para comandar o novo capítulo da franquia Star Wars, Os Últimos Jedi. Gosto muito de Looping, seu grande filme até aqui, mas senti que faltava experiência para mexer na saga que faz parte da minha vida e de tantas outras pessoas. Mas que engano! Ao contrário de J.J. Abrams, Johnson trilha o caminho mais imprevisível de Star Wars até aqui, fazendo com que seu público grite, vibre e chore em iguais medidas.
A trama de Os Últimos Jedi começa exatamente de onde O Despertar da Força terminou: a Resistência teve uma vitória tímida, mas saiu enfraquecida. Com isso, a Primeira Ordem, de Snoke (Andy Serkis) e Kylo Ren (Adam Driver, impecável), começa a sua intensiva contra o grupo de Rey (Daisy Ridley), Finn (John Boyega), Poe (Oscar Isaac) e Leia (Carrie Fischer). É o momento, então, que as peças no tabuleiro começam a se mexer e o futuro da galáxia é posto em xeque.
No entanto, enquanto isso, uma fagulha de esperança começa a despertar -- e às vezes, a esmaecer -- enquanto Rey busca treinamento com Luke (Mark Hamill), exilado numa ilha no meio do nada e que não quer saber mais da Força e suas consequências. É, basicamente, a mesma jornada que o próprio Luke traçou com Mestre Yoda, em O Império Contra-Ataca, quando o ainda jovem jedi tentou sair da ignorância para encontrar a luz e enfrentar todo o Império.
Com essa fórmula em mãos, Johnson cria um verdadeiro espetáculo narrativo e visual. Seu primeiro grande acerto é ir na contra-mão de Abrams: ao invés de criar uma história que só é calcada na nostalgia e que usa, até mesmo, uma estrutura semelhante à filmes anteriores, o novo diretor resolve abalar todas as estruturas. Personagens vem e vão, sem medo algum de chocar. Paradigmas são construídos, outros são quebrados. Fãs conservadores não devem gostar.
É impossível, porém, afirmar que essa quebra de paradigmas não é bem feita. Johnson cria cenas memoráveis e leva a atuação de seus atores ao ápice -- Daisy Ridley está menos carismática, mas é a alma do filme; Adam Driver volta a apresentar uma constituição psicológica incrível para seu personagem; e Mark Hamill dá uma força indescritível à Luke, que transita entre o ar professoral de mestre, o medo e a fagulha de esperança que nasce em seu âmago.
Além disso, Johnson -- assim como fez em Looping -- não tem medo em criar pequenos e interessantes plot twists dentro da história, que não atrapalham em nada e que dão um ar mais interessante à história. Falando em não atrapalhar em nada, parem de encher o saco com os Porgs! Eles são necessários? Aparentemente, não. Mas eles contam com alguns momentos fofinhos e podem colocar um sorriso no rosto de algumas pessoas. No fim, não são um Jar Jar Binks.
Na questão de roteiro, porém, há alguns erros que não podem ser ignorados. Finn, que no outro filme tem um charme especial, tem um plot muito chato -- principalmente por conta da personagem de Kelly Marie Tran, que é uma das personagens mais chatas de Star Wars de toda a franquia. Além disso, a escolha de colocar BB-8 com os dois durante grande parte do filme é um erro. O droide perde toda a graça de O Despertar da Força e se torna totalmente esquecível.
Ainda assim, nada atrapalha o resultado final de Os Últimos Jedi. Cenas inesquecíveis, um final de tirar o fôlego com sequências surpreendentes e lindamente fotografadas, atuações marcantes e novos caminhos que começam a ser trilhados a partir daqui. E muitos podem dizer que muito da magia que foi construída em O Despertar da Força se quebrou aqui. Mas quem diz isso não conhece Star Wars e toda a grandiosidade do universo que o cerca. Sem dúvidas, a força continua com a franquia.
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