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Foto do escritorMatheus Mans

Análise: Netflix precisa se mexer antes da estreia do Disney+


Acompanho o mercado de streaming há cinco anos, desde que comecei uma cobertura consistente sobre a temática no Estadão. E, nesse tempo todo, nunca vi uma ameaça tão real à Netflix quanto a que está se desenhando agora. A Disney, depois de um longo processo de criação e desenvolvimento, finalmente está começando a dar forma ao seu serviço de streaming, o Disney+. Por mais que o Brasil tenha que esperar até o final de 2020 para ter a plataforma, EUA terão até o final deste ano. Europa, até o início de 2020.

Assim, é preciso se atentar a algumas coisinhas antes de continuar essa nossa conversa. Primeiro: a Disney está desenvolvendo esta plataforma de streaming há anos. Isso nunca foi feito por nenhum concorrente da Netflix. Quando o Amazon Prime Video chegou ao mercado, e aparentava ser a grande ameaça para o serviço de Ted Sarandos, todo mundo ficou surpreso em quão amadora era a interface da plataforma. E assim, por mais que tenha uma gigante do varejo por trás de todos os processos, não vingou.

HBO Go, Telecine Play e Fox Play também não se mostraram como ameaças ao reinado da Netflix por estarem, inicialmente, vinculadas à canais de TV por assinatura -- e, quando se desvincularam, apresentaram preços exorbitantes. Vai trocar Netflix por isso?

E claro, esse cenário é quando falamos de Brasil. No entanto, ao pensar na lógica americana e europeia, poucas coisas são diferentes. As plataformas são quase as mesmas, com a diferença de uma ou de outra. Na terra de Donald Trump, a que se mostrou mais ameaçadora foi o Hulu -- empresa que, dentre outras coisas, produz a ótima The Handmaid's Tale. E olha que surpresa: este serviço de streaming tinha como acionista majoritário a Fox, que agora é da Disney. Percebe a situação geral da Netflix?

Pense no mercado como uma balança. A Netflix sozinha, de um dos lados, tinha muito mais peso do que todos os outros serviços, amontoados do outro lado -- até mesmo pensando no Hulu e Mubi. Não tinha quem batesse de frente. Não havia catálogo igual.

Agora, porém, as coisas vão finalmente mudar e o mercado de streaming vai entrar na selva do capitalismo. A empresa do Mickey, além de colocar quase todas suas produções na plataforma, também estão produzindo coisas impensáveis apenas para o Disney+, como um filme live-action de A Dama e o Vagabundo, séries derivadas do universo da Marvel e até coisas de Star Wars. Sem falar em filmes natalinos bobinhos -- coisa que a Netflix tentou se especializar, mas falhou -- e outras produções pra chamar a atenção.

Se a Netflix continuar na toada que está, as coisas podem desandar rapidamente. O último grande lançamento da empresa foi Roma e, ainda assim, foi algo extremamente específico, pensado para a temporada de premiações. E em breve, The Irishman vai seguir o mesmo caminho. Mas de conteúdo convencional, do dia a dia, poucas coisas boas estão sendo produzidas. Até as séries, ponto alto da empresa até então, entraram em uma apatia contagiante. Qual produção conseguiu se equiparar com House of Cards? Orange is the New Black? Nem The Umbrella Academy chegou perto, ao menos.

Isso sem falar do preço. O Disney+ vai custar a metade do que custa a Netflix hoje. Afinal, a empresa do Mickey não precisa ter grande faturamento ali. Ela se sustenta.

A Netflix, neste momento, precisa corrigir os rumos. Uma pancada está por vir e seu catálogo deve empobrecer violentamente -- afinal, dos grandes estúdios, sobraram apenas Paramount e Warner como parcerias mais consolidadas. Parcerias estas que podem ruir a qualquer momento com uma gigante entrando nessa guerra de streamings. Não dá, de forma alguma, para a empresa de Ted Sarandos continuar a olhar apenas para o próprio umbigo, achando que já dominou o mundo e não precisa de ninguém. A briga está só começando. E a balança começa a pender mais pro outro lado.

 
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