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Foto do escritorMatheus Mans

42ª Mostra Internacional de Cinema acerta nos filmes e erra na inovação


A 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo começou anunciando, com entusiasmo, um diferencial: seria possível, pela primeira vez, reservar ingressos por meio de um aplicativo próprio. Assim como já acontece há alguns anos no Festival do Rio, o principal evento cinéfilo da cidade de São Paulo traria mais agilidade e conforto aos seus milhares de frequentadores. No entanto, no meio da Mostra, a organização decidiu deixar a tecnologia de lado e voltou a usar a retirada de ingressos na boca do caixa, como antes. Isso, sem dúvidas, tirou o impacto tecnológico do evento, mas não o estragou. Afinal, os filmes brilharam e, como esperado, roubaram a cena do festival.

A seleção deste ano contou com poucos longas realmente ruins. Dos que foram assistidos pelo Esquina, apenas Casa Dividida, O Homem que Matou Don Quixote, Sem Amor e Raiva não trouxeram um resultado realmente agradável -- este último, do português Sérgio Tréfaut, é o único dentre os assistidos que pode ser considerado um desastre completo. Os outros 60 filmes conferidos, dos mais de 300 disponíveis, trouxeram condições gerais que transitaram entre o mediano, o agradável e os que são obras que conseguem mesclar direção, roteiro e atuação em ótimos resultados.

O cinema nacional, por exemplo, brilhou com algumas exibições. Temporada, ainda que tenha probleminhas de ritmo, elevou a qualidade dos dramas mais profundos sobre as diferenças sociais e esquecimento. Filmaço que mereceu o prêmio que levou no Festival de Brasília e que não merecia ter perdido o Prêmio da Crítica da Mostra para Todas as Canções de Amor -- filme que, apesar de inferior, possui uma direção talentosa e uma ideia inovadora no cinema nacional contemporâneo de deixar canções nacionais conduzirem a trama. A música, aliás, também roubou a cena em filmes como Inezita, Clementina e Simonal, estreia retumbante de Leonardo Domingues na direção.

Vale ressaltar, também, o filmaço Torre de Donzelas, de Suzana Lira. Importante e atual, o longa-metragem se mostrou como uma peça rara de lucidez durante o período tão obscuro no qual a Mostra de Cinema de SP se desenrolou. Mereceu o prêmio Petrobrás.

A Mostra também se aproximou ainda mais do público com alguns lançamentos pops e com apelo ao público em geral. Infiltrado na Klan, por exemplo, trouxe Adam Driver como o protagonista do esperado longa-metragem de Spike Lee -- e, apesar do roteiro ser rocambolesco, vence pela atualidade da discussão. O filmaço A Favorita, de Yorgos Lanthimos, e os bons Podres de Ricos, Poderia me Perdoar? e A Casa que Jack Construiu também conseguiram criar um público à parte dentro do festival de cinema.

A "categoria" de filmes com mais pérolas, porém, foram as indicações estrangeiras ao Oscar e algumas produções pouco badaladas. É o caso de Culpa, thriller dinamarquês que transpira tensão e emoção numa trama que reverbera em Chamada de Emergência -- só que mais bem feito, é claro. Ága é uma outra produção impecável da Mostra e pouco comentada antes da abertura do festival. Escrito e dirigido pelo búlgaro Milko Lazarov, o longa-metragem é Cinema de verdade. Com C maiúsculo. Bem feito em todas suas medidas, difícil não cair nas lágrimas -- e difícil não concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Outro que entra no mesmo barco é Cafarnaum, um filme delicado e cheio de poesia que levou, merecidamente, prêmio principal da Mostra.

Uma pena, então, que o sistema de ingressos do maior festival de cinema de São Paulo não tenha entrado, finalmente, em seu completo funcionamento. Afinal, com o brilho completo da seleção de filmes, que teve poucas grandes derrapadas, a 42ª Mostra de Cinema de São Paulo teria sido um evento completo, quase impecável. Boa seleção de salas de cinema, boa organização, boa relação com o público -- apesar de alguns "esquentadinhos", que cismam em brigar e arrumar encrenca. E boa relação geral com a imprensa, tendo boa oferta de cabines e exibição fechadas. Ganhou pontos no geral.

Agora, fica a expectativa para a 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e a ansiedade de que o evento não tenha problemas com os novos tempos que se assomam no País.

A cobertura completa da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo pode ser conferida AQUI.

 

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