Inicialmente, Podres de Ricos chama a atenção por ser uma comédia romântica fora dos padrões. Baseada no livro Asiáticos Podres de Ricos, de Kevin Kwan, a produção é a primeira de Hollywood a ter um elenco inteiramente asiático, respeitando a história e a origem de cada personagem. E apesar da importância étnica e social dessa representatividade, é um aspecto que acaba ficando de lado conforme a trama passa na tela.
A história, afinal, é divertidíssima: Rachel Chu (Constance Wu) é uma professora de economia nos EUA que namora com Nick Young (Henry Golding) há algum tempo. Quando ele a convida pra ir no casamento do melhor amigo, em Singapura, esquece de avisar que, como herdeiro de uma fortuna, ele é um dos solteiros mais cobiçados do local, colocando Rachel na mira de outras candidatas e da mãe de Nick, que desaprova o namoro.
A partir daí, o diretor Jon M. Chu (dos regulares Truque de Mestre: O 2º Ato e G.I. Joe: Retaliação) cria uma trama leve e divertida para embalar a história repleta de clichês do gênero, costumes chineses e personagens apaixonantes. Difícil não entrar de cabeça na história e se identificar com os personagens, sofrer com as reviravoltas, torcer pelas conquistas e rir com as confusões e gafes. É um universo distante do que vive o brasileiro, mas que não deixa de ter suas particularidades universais. É um filme para todos.
Os clichês, como esperado, estão todos lá: as amigas interesseiras, a ex-namorada que quer o galã de volta, o mocinho bonzinho. Seria pedir demais que uma produção, que aposta tão veementemente no gênero da comédia romântica, quebrasse completamente os padrões do subgênero. É preciso criar alguma identificação do público com a trama. No entanto, quando pode, há rupturas, como a mocinha independente e com vida profissional definida, a falta de figuras paternas na maioria dos núcleos, e por aí vai.
No entanto, o que se destaca e acaba superando qualquer clichê do gênero é a força dos personagens. Independente do tempo em tela, todos são bem construídos pelos roteiristas Peter Chiarelli (A Proposta) e Adele Lim (da série Dinastia). Todos são humanos, com características próprias, e que acabam interferindo de maneira positiva na trama. É a esposa traída que busca independência, o filho solteiro que não larga o celular, o que gasta todo seu dinheiro em filmes furados, e por aí vai. São apaixonantes, como não se via no subgênero da comédia romântica desde o ótimo Questão de Tempo.
O elenco, é claro, ajuda nesse ponto. Constance Wu (da animação Next Gen) é uma estrela pronta. Consegue empregar um forte realismo à protagonista, assim como tem controle sobre todas as camadas de sua personagem. O mesmo vale para Michelle Yeoh (Star Trek: Discovery), intérprete da mãe do mocinho, que emprega vilania e preocupação com a prole em iguais medidas. Awkwafina (Oito Mulheres e um Segredo), Ken Jeong (Se Beber, Não Case) e o estreante Calvin Wong estão divertidíssimos.
Para completar, por mais que não tenha muitos recursos técnicos, o diretor Jon M. Chu consegue trazer uma leveza inesperada à trama e que dá muito dinamismo, como riscos coloridos que passeiam na tela indicando a troca de mensagens, edições rápidas e certeiras e, principalmente, uma trilha sonora de cair o queixo, que vai desde música orquestral animada e marcante até clássicos do pop internacional cantados por grandes nomes chineses. Tudo isso, no final, acaba se sobressaindo e ultrapassando, simplesmente, a questão étnica. Não basta ser um filme representativo. É muito bom em seu conteúdo também.
Podres de Ricos é um filme com clichês básicos do gênero e até algumas questões que incomodam com relação à falta de sororidade -- como mulheres se estapeando por um homem. Mas, ainda assim, dá para relevar os erros básicos e se apaixonar por seus personagens, se encantar com elenco e trilha sonora e, principalmente, se emocionar com a história romântica, que dá ânimo para qualquer um que esteja num dia cinzento. Agora, fica a ansiedade para as próximos duas sequências já confirmadas pela Warner.
* O filme faz parte da programação da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. A reportagem assistiu ao longa durante a pré-cobertura do festival.